sexta-feira, 3 de julho de 2009

GESTO DE MANUEL PINHO NÃO FOI PIOR DE QUE OS HABITUAIS INSULTOS ENTRE DEPUTADOS QUE NOS AGRIDEM HÁ DÉCADAS E NUNCA TIVERAM A CORAGEM DE SE DEMITIR

















De onde não se esperam é que elas surgem. Até porque, Manuel Pinho, cultiva um estilo de homem tranquilo, de um homem sábio e educado, que mal levanta a voz, que fala quase num tom intimista, em que não há altercações ou exasperamentos, com uma expressão sorridente e simpática, que suaviza, cativa e aproxima os seus interlocutores. Confesso que, entre os ministros do governo de José Sócrates, era de quem eu jamais poderia imaginar uma tal reacção. Já me tinha apercebido que não era muito político no seu discurso. Fala como quem conversa e não tem nada a esconder. Enquanto Ministro da Economia, preocupava-se, sobretudo, com os seus projectos, com as questões que queria resolver. E fez muito. Deixa uma obra que outros ministros - na mesma pasta - não lograram realizar. Amanhã, Sexta-feira, vem a Portugal um Prémio Nobel, a seu convite - Pena é que já ali não possa estar na qualidade de anfitrião.



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Prémio para a inovação na defesa do ambiente, Portugal adoptou o Plano Tecnológico para a energia e passou a ocupar a quinta posição a nível mundial na área das energias renováveis. Sendo a liderança ocupada pela Suécia, Áustria, Finlândia e Letónia.

Numa das suas conferências sobre as energias, Manuel Pinho garantiu que produzimos, actualmente, 42 por cento da electricidade a partir de fontes renováveis, sobretudo de água e vento"








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Além do distinto académico, Manuel Pinho, é , sem dúvida, um excelente quadro com reputação internacional. Sentiu-se ferido na sua dignidade e reagiu. Quem o pode condenar por esse facto? Alguém que se sinta suficientemente forte a todas as fraquezas humanas que atire a primeira pedra! Há momentos em que a emoção se sobrepõe a todas as convenções sociais.

Confesso que não fiquei de todo surpreendido. É que, para quem, diariamente se vê confrontado com as mais espinhosas tarefas, perde longas horas de exaustivo trabalho, posto perante insinuações provocatórias, num ambiente habitualmente tenso e crispado - mais dado à explosão de ódios do que ao entendimento e ao eticamente acalorado- , creio que não há paciência que resista! O provocador justifica-se; alega que foi ao contrário - É o velho argumento; pois há muito se viu que essa gente - provoca - mas quer ter sempre razão! Ainda não se chegou a vias de facto. Mas lá havemos de chegar um dia. Pelo menos na rua, já aconteceu - Foi na Marinha Grande e, ainda há bem pouco tempo, no 1º de Maio. Relembro. Viu-se os responsáveis da manifestação a apresentarem algum pedido de desculpas ao agredido?! Pelo contrário: a que se assistiu foi a mais um sacudir as responsabilidades e um acicatar de ódios!



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Na verdade, os insultos ou a chamada troca de galhardetes entre deputados são frequentes. De tal modo já se instituírem que quase já não constituem novidade ou notícia. E a tendência é certamente para piorar. Vivemos numa sociedade cada vez mais agressiva e intolerante. Os deputados são eleitos pelo povo. E, muito embora nem sempre o representem ou defendam na melhor acepção do termo, são também o reflexo das suas virtualidades e defeitos. São de algum modo o espelho das muitas discussões acaloradas que surgem, tantas vezes, no quotidiano pelos motivos mais fúteis!

Precisamente, naquele hemiciclo, há quem tenha reagido bem pior - através de um calão bem vernáculo e, no entanto, nem sequer se dignou apresentar um pedido de desculpas - E, curiosamente, vindo de alguém que cultiva um aspecto jovial, que até parece que tem a cara de um santinho! Quem o não conheça, vendo-o à primeira vista, a sua imagem até faz crer que nunca partira um prato ou matara uma mosca - Mas já se viu que é um bom saco de veneno! Quem não se lembra dessa figura enigmática? que fala habitualmente entre o meio sério ou seráfico e a brincar? - Mas que (logo que incomodada) dificilmente consegue disfarçar a sua máscara e depressa se lança em ataques ou alfinetadas! - É certo que, naquele momento, não reagiu por gestos irreflectidos e impensados mas da forma mais primária e leviana! Sob o insulto mais ordinário e baixo. E, porventura, bem consciente da maldade que estaria a insinuar!







O lamentável episódio passou-se com o então deputado e vice-presidente da bancada do PSD José Eduardo Martins que
não se escusou de apelidar de bandalho o deputado socialista Afonso Candal num debate sobre incentivos à instalação de painéis solares.

Numa entrevista, concedia, mais tarde, ao RCP, o deputado Martins reconhece que perdeu “as estribeiras” Mas só lamenta que os 228 deputados do Hemiciclo tenham sido testemunhas "de uma cena menos agradável. Daí que a sua arrogância e falta de humildade, tivesse ficado por ali: ”Não retiro nada ao que disse - afirmou o jovial deputado laranja e da nação.


Creio que são, pois, seguramente reacções como as deste deputado que desacreditam os políticos e perturbam a opinião pública. - Infelizmente, reacções do género fazem parte do dia a dia. Não são casos isolados. Acontecem quando se vai ao volante de um carro, acontecem nas relações do trabalho, no meio da rua, podem ocorrer em qualquer lugar. Porém, os deputados e os governantes, deviam ser mais prudentes e cautelosos. Mas, já se viu que - independentemente das suas responsabilidades ou ideologias, são humanos, têm reacções como qualquer pessoa - Embora só lhe perdoem as suas falhas ou erros, segundo a óptica política como forem vistos.














Apesar de tudo ainda somos um país de brandos costumes. As imagens que nos chegam dos políticos lá de fora, são bem piores. São cenas mortíferas ou de verdadeira pancadaria! .

Manuel Pinho, não foi feliz na reacção às insinuações e às graçolas do deputado comunista. Mas é um facto que, que quem cala consente e quem não se sente não é filho de boa gente. E já deu para ver que ali há gente muito boa e também gente muito má - Que finge que é boa mas que só destila figadeira e é extremamente hipócrita. A intolerância vem sempre dos extremos. E é o que, ali, geralmente , mais se tem notado. Sobretudo nas bancadas pouco dadas ao espírito democrático.

Se me perguntassem se fez bem demitir-se: eu diria que fez mal! - De um modo ou de outro os media não largariam o episódio.

Nuno Morais Sarmento - enquanto Ministro da Presidência - entre outras arbitrariedades sobre a RTP e os jornalistas - defendia que "o modelo da programação da RTP deve ser feito pelo governo, uma vez que é este que responde pelas decisões praticadas pela televisão pública" (...) "Não são os jornalistas nem as administrações que vão responder pelos eleitores", perante a informação ou pela programação. Imagine-se qual não seria a reacção da oposição e dos jornais se Sócrates falasse com esta prepotência?! - No entanto, a direita pode fazer tudo quanto lhe apetece e lhe vier à cabeça, porque sabe que, se houver reacções, não haverá folhetim e tudo se esgotará no mesmo dia ou no dia seguinte.

ENTREVISTADO PELA SIC - MANUEL PINHO RECONHECEU O SEU ERRO E ASSUMIU-O COM HUMILDADE

Trataram-me de mentiroso, reagi mal, mas a culpa é toda minha”- diria horas depois, Manuel Pinho, numa entrevista ao canal de Carnaxide . Aprecei a sua entrevista e até a forma como foi conduzida. Ficaram-lhe bem aquelas palavras e a sua simplicidade. Outros se portaram bem pior e nem sequer reconheceram o seu erro. Disse que na vida há várias vidas e eu acredito que sim - sobretudo quem não se sente amarrado ao poder, reconhece que possui altas qualidades e está determinado para continuar a enfrentar outros desafios no futuro. Contrariamente a certos deputados, que estão ali há décadas (de algum modo fora do país real) e que até parece que nem sabem fazer outra coisa - E se ao menos a soubessem fazer bem!


















OS COMENTADORES NA RTP E NA SIC (NÃO VI O CANAL DA TVI) MOSTRAM-SE PRATICAMENTE MAIS CHOCADOS DO GESTO DE MANUEL PINHO DO QUE OS PRÓPRIOS POLÍTICOS - OU MESMO TALVEZ QUE O VULGAR CIDADÃO.

A RTP1, quanto a mim, foi das duas estações a que se portou pior. Não sei o que se passou com o jornal da RTP2, mas deve ter sido a mesma coisa. Seguiu com o figurino habitual - em que ,aliás, até já foi condenada mais do que uma vez pela ERC. Em vez de colocar dois comentadores com opiniões que se pudessem contraditar, optou apenas por ouvir uma opinião. Para uma estação de serviço público, num telejornal de grande audiência, não me parece que seja o melhor modelo para defender o pluralismo e a isenção. José Rodrigues dos Santos entrevistou em directo o director do Jornal de Negócios - Será este um jornal de esquerda?!.. - Pedro Guerreiro achou que Manuel Pinho teve um “gesto chocante”. Nem outra coisa era de esperar de um jornalista de direita. Alguém ouviu essa palavra no Parlamento?!


















Na SIC também se ouviram algumas considerações que raiaram pelo mesmo tom mas, ainda assim, foram díspares - Todavia a que mais me decepcionou foi a do ex-socialista António Barreto - ao que parece desde algum tempo mais próximo das posições do PSD e de Cavaco Silva. Para o antigo Ministro da polémica lei Barreto, António Manuel Pinho (que acabava de ouvir em directo na entrevista concedida À SIC - numa louvável iniciativa de uma estação privada), era já um caso arrumado, que já não justificava quaisquer comentários. Foi assim que começou por falar. Mas depois lá foi vertendo as suas considerações, naquele estilo azedo que lhe é habitual.

Ele e José Miguel Júdice costumam encontrar-se em "Regras do Jogo" na SIC. Ambos têm um notável currículo - Mas o curioso é que - e tal como aconteceu nas opiniões que ali foram expressar sobre Manuel Pinho -, o que se constata é que, Júdice ( que julgo que já militou no PSD) se aproxima, actualmente, mais com as posições socialistas, enquanto Barreto elogia Manuela Ferreira Leite e assume um estilo fortemente crítico e contundente, num quase permanente deitar abaixo com o partido onde já militou. Em todo o caso, quer os seus comentários de um e de outro, merecem reflexão e respeito.

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